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A Espanha celebrou em 1998 o 4.º Centenário da morte de Filipe II. Por todo o País (e também no estrangeiro) realizaram-se exposições, congressos, seminários, cerimónias públicas, etc. Na verdade, o país vizinho tinha toda a razão em homenagear condignamente a memória de um dos seus melhores monarcas, aquele que conduziu a Espanha à sua época mais gloriosa, o «Siclo del Oro». O império de Filipe II era tão vasto que nunca nele o Sol se punha: estendia-se de Barcelona a Lisboa, da Sicília à Flandres, de Ceuta ao Cabo, de Goa às Filipinas, do México ao Brasil.
E Portugal, do qual ele também foi monarca, que fez? Assobiou para o ar, distraidamente, fingindo nada ser consigo. Fez e disse bravatas nacionalistas, com as quais pensava esconjurar o papão do iberismo. Foi incapaz de lembrar Filipe II sem complexos.
Que sentido tem, nos dias de Schengen e do euro, a hipersensibilidade portuguesa face ao seu poderoso vizinho espanhol? Por que razão, sempre que falamos da invasão do mercado português por produtos espanhóis, gritamos logo «Vêm aí os Filipes»? Que explicações daria Freud para a algazarra mediática que aqui há tempos se escutou, só porque uma senhora acusou o Governo português de fazer fretes aos Espanhóis ao construir o TGV? «Aqui-del-rei, aí está o imperialismo espanhol!», gritaram os pequenos e médios nacionalistas. «Às armas, às armas, contra os castelhanos marchar, marchar!», bramiram os ultranacionalistas.
Disparates! A partilha dos poderes do Estado português começou a fazer-se no dia em que, no Mosteiro dos Jerónimos, foi assinado o Tratado de Adesão à CEE. A partir de então, o nosso destino colectivo passou a estar associado ao da Espanha e ao de mais 25 países. Essa comunidade de destinos é hoje económica, social, cultural e, no futuro, será cada vez mais, também, política. Queiram ou não os nacionalistas de todas as dimensões e os velhos do Restelo de todos os matizes, a União Europeia não volta atrás. O tempo do «orgulhosamente sós» acabou definitivamente.
A União Europeia contém dentro de si, como é óbvio, uma componente de União Ibérica. Mas a União Europeia, simultaneamente, é a nossa melhor defesa contra as tentações hegemónicas castelhanas.
Portanto, exorcisemos de vez os fantasmas iberistas e esqueçamos que «de Espanha nem bom vento nem bom casamento». Este ditado deve ter sido inventado por algum marido régio, dasapontado com o camafeu que lhe impuseram como noiva. Nós, os raianos, que contamos como amigos muitos espanhóis, nunca notámos que de lá soprassem maus ventos. Aliás, eram bem mais frios os da serra da Estrela que os da serra da Xalma. Bem fazem os autarcas da Raia em abrir estradas a ligar as aldeias dos dois lados da fronteira e em geminar povoações. Que nunca as mãos lhes doam!
«Na Raia da Memória», opinião de Adérito Tavares
ad.tavares@netcabo.pt
…ou os trilhos dos contrabandistas, se poderia intitular esta Carta Dominical.
Ocultas veredas, porque era sinal de sabedoria e de prudência, manter em segredo os caminhos e veredas que os contrabandistas calcurreavam para chegarem a bom porto, quer dizer, ao sítio onde poderiam dar por bem concluído um trabalho que era, em todos os casos, uma séria aventura.
Com a Europa livre, o conceito de contrabando alterou-se.
Hoje em dia, é contrabando o que, comprado e vendido nos países da Comunidade e dela originários, não tenham prova de pagamento do IVA. O contrabando era isso, porque as mercadorias não pagavam as taxas alfandegárias. De modo que, não sabemos se o contrabando, por falta de pagamento do IVA, terá aumentado ou não.
Quanto ao antigo, elogiamos a iniciativa dos Fóios, que vai revelar as ocultas veredas, entre o lado de cá e os pueblos de Valverde del Fresno e de Navasfrias.
Quem tiver pedalada, bem se pode entregar a um desporto de, através de trancos e barrancos, percorrer um mínimo de umas quase três léguas, a pé.
Agora, não a salto, nem temor dos fuscos, mas livres e encantados.
«Carta Dominical», opinião de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
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