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«Imagem da Semana» do Capeia Arraiana. Envie-nos a sua escolha para a caixa de correio electrónico: capeiaarraiana@gmail.com
Data: 10 de Janeiro de 2010.
Local: Aldeia Histórica de Sortelha.
Autoria: Joaquim Tomé (Tutatux).
Legenda: A neve transformou em cenário dos filmes de Walt Disney o casario granítico do interior das muralhas do castelo de Sortelha. O virtuosismo (e sentido de oportunidade) deste fotógrafo raiano fica mais uma vez demonstrado neste clique. Brilhante.
jcl
Os jornais que compramos, pagando, sujeitam a nossa mente a sádicas torturas, pela forma como os jornalistas escrevem o que sabem escrever.
Formas verbais incorrectas, confusão de verbos (raros distinguem entre ter e estar…), incapacidade de utilizar preposições (tão simples: preposições) como na forma «divorciar com» em vez de «divorciar de», ignorância de significados, atrevimentos na forma de tratar assuntos que lhes provocam dores de dentes, enfim, tudo isto se agrava nas televisões.
Locutores que não distinguem palavras homónimas, nem homófonas e legendaristas que dão pontapés fatais na gramática. Decerto porque erraram na vocação e foram para jornalistas, em vez de terem optado pela carreira de futebolistas.
Para melhor clarificação veja-se a revisteca de televisão do «Correio da Manhã», de 18 de Dezembro. O português está a ser assassinado.
Ainda temos um recurso: falar quadrazenho.
«Carta Dominical», opinião de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
O trabalho musical «Cicatrizando» (acção poética e sonora) de Américo Rodrigues é a música em destaque no Capeia Arraiana. A faixa 5 – «À cata da gíria» – resulta de uma acção realizada no mês de Agosto de 2009 entre a Guarda e Quadrazais.
As notas do autor indicam que este disco «Cicatrizando» regista o som de acções poéticas levadas a cabo por Américo Rodrigues a partir de elementos da tradição oral portuguesa (romances, lengalengas, orações, adivinhas, ditos, alcunhas e vocabulário de uma gíria). Todos os temas tiveram por base uma intervenção concreta em cujo processo se usaram tecnologias rudimentares (low tech) de gravação, comunicação e amplificação da fala e da voz (telefone, minigravador de cassete, megafone, walkie talkies, intercomunicadores, gps’s, transístores, etc.). O som obtido nas acções foi depois alvo de montagem.
1. Santa Bárbara e o medo
Regresso ao «túnel do medo» da minha infância para gritar orações à Santa Bárbara. Num coreto de um recinto de festas dedicadas ao Senhor dos Aflitos acompanho as orações com passos, pressas e vozes ancestrais. Numa Catedral recito-as baixinho. Acção realizada nos dias 29 de Julho e 14 de Agosto no túnel ferroviário do Barracão, no recinto do Barroquinho, no parque de estacionamento do TMG e na Sé Catedral da Guarda.
2. A máquina das adivinhas
Telefono a dezenas de pessoas a perguntar soluções para adivinhas populares. Depois a minha voz transforma-se numa máquina de perguntar. Muitas pessoas acertam nas respostas. Outras riem. Acção realizada no dia 14 de Agosto de 2009.
3. Romance no mercado
No mercado municipal da fruta e do peixe, leio um rimance antigo (O Conde da Alemanha) aos vendedores. Ouço histórias e, até, choros. Recomeço a contar o rimance. Devolvo o rimance ao povo. As vozes sobrepõem-se. Acção realizada no dia 29 de Julho de 2009 no Mercado Municipal da Guarda.
4. Alcunhas ao vento
Grito alcunhas de cima de uma penedia. O vento leva nomes estranhos e palavrões. Sou ouvido a quilómetros de distância. A voz ecoa no vale do Mondego. Acção realizada no dia 29 de Julho de 2009 no Miradouro do Moncho Real (Caldeirão).
5. À cata da gíria
Viajo até uma localidade da raia onde se recorda uma gíria de contrabandistas. Durante a viagem ouvimos músicas do mundo. Não respeito as indicações de percurso. Telefono a um filósofo e filólogo para me explicar de onde vem aquele linguajar. Regresso. Acção realizada no dia 11 de Agosto de 2009 entre a Guarda e Quadrazais.
6. Orações & confusões
Registo orações populares em diversos espaços (rua, casa, elevador, carro) e a horas diferentes usando um pequeno gravador e um megafone. As orações acompanham a vida diária. A confusão quotidiana. Acção realizada de 29 de Julho a 14 de Agosto na Guarda.
7. A boca
A uma refeição leio uma receita gastronómica tradicional como se, ao mesmo tempo, comesse as palavras, saboreasse a sintaxe e limpasse a boca à semântica. A seguir junto-lhe música feita com colheres e garfos. A boca como caixa de ressonância. Acção realizada no dia 21 de Agosto, no restaurante Condesso, em Vila Franca das Naves.
8. Mãos no ar
Bato com as mãos e com um pequeno pau numa chapa metálica (rails de estrada). Com um megafone produzo feedbacks. Improvisação livre numa curva de uma estrada. Acção realizada no dia 29 de Julho de 2009, no Caldeirão.
9. Radioactividade
Durante a noite, numa emissão radiofónica, são difundidos anúncios, aparentemente vulgares, com conselhos absurdos referenciados como sendo «sabedoria popular». Para além desses «ditos» ouve-se também um grito lancinante e um conto numa língua inexistente. Acção realizada no dia 28 de Agosto. Os anúncios foram emitidos pelo Rádio Altitude entre as vinte e três e as zero horas. Na gravação usou-se um auto-rádio e alguns transístores.
10. Corrida de lengalengas
Envio uma carta sonora (via telemóvel) ao César Prata com instruções acerca da montagem do tema. Como se fosse uma corrida de cavalos ou de galgos. As lengalengas são ditas numa velocidade vertiginosa. As sílabas atrapalham-se, as palavras suam, as frases atropelam-se. Acção realizada no dia 9 de Outubro de 2009.
11. Provérbios ao domicílio
De casa em casa divulgo provérbios. Falo através de intercomunicadores ligados a porteiros-vídeo. A certa altura invento novos provérbios, altero-lhes o sentido inicial, subverto juízos antigos. Acção realizada nos dias 29 de Julho e 14 de Agosto, na Guarda e em Trancoso, em diversas casas.
12. O mar portátil
Dentro de água canto uma antiga canção de embalar. Respirar dentro de água. Como se fosse dentro da mãe. Quase morrer de tanto cantar. Acção realizada no dia 12 de Outubro de 2009 numa moradia na Guarda.
Ficha Técnica
Autoria: Américo Rodrigues. Gravação, misturas e masterização: César Prata. Design: Jorge dos Reis. Fotografias: Armando Neves, José Teixeira e César Prata. Produção: Américo Rodrigues com apoio de César Prata. Edição: Bosq-íman:os records. Apoio: Luzlinar e Instituto de Estudos da Literatura Tradicional (Universidade Nova de Lisboa). Guarda (Portugal), Dezembro de 2009.
jcl
Continuando a divulgar as ofertas turísticas em habitação rural do concelho do Sabugal, começo por agradecer o comentário de Maria de Lurdes Matos, por referir a existência de mais duas casas de turismo em espaço rural, de sua propriedade, em Sortelha, a saber…
Casa da Lagariça – Construção do Século XVIII situada na Calçada de Santo Antão, com este nome por ter existido no seu interior, uma lagariça (depósito em pedra, para esmagar e fermentar as uvas). Dispõe de 3 quartos, 2 de casal e um duplo, sala com sofá-cama, lareira, cozinha equipada e duas casas de banho, tendo capacidade portanto para oito pessoas.
Casa da Calçada – Reconstruída e adaptada de um antigo palheiro, dispõe de 2 quartos de casal, 1 casa de banho, 1 sala de estar, lareira e cozinha equipada.
Lapa do Viriato – Finalmente, em Sortelha, há ainda esta pequena casa recuperada para o turismo rural, com utilização de materiais locais, mas com modernos equipamentos, para lhe dar maior conforto. Compõe-se de 1 quarto/sala, lareira e casa de banho.
Quinta do Alexandre – É uma casa de campo inserida, numa área de 16 hectares à saída do Sabugal (cerca de três quilómetros) Possui vários quartos de casal, 4 casa de banho, aquecimento central, salão com 70 metros quadrados, com lareira, sala de jantar, cozinha equipada com salamandra, 1 forno a lenha, solário, parque infantil e terraço com vistas para a cidade do Sabugal.
Casa do Manego – Situada em Quadrazais, a moradia, foi recuperada para turismo rural, mantendo as características tradicionais, respeitando o traçado antigo. Compõe-se de uma sala/cozinha, toda equipada e com lareira, duas suites, quarto de casal e quarto duplo, duas casas de banho de utilização geral e três casas de banho privativas.
Casa Torga – Situada em Aldeia Velha, eram três pequenas moradias tradicionais que foram adaptadas a turismo rural, respeitando ao máximo o traçado antigo. Compõem-se no rés-do-chão de duas divisões independentes, uma suite, com casa de banho privativa, sala de estar com sofá-cama e noutra divisão, possui um quarto de casal com casa de banho privativa. No 1.º piso tem uma sala de estar e três quartos, um de casal e dois duplos, todos com casa de banho privativa.
Casa do Tear – Situada na Arrifana do Côa, a casa foi recuperada para turismo rural e corresponde ao restauro de tês pequenas moradias tradicionais. No rés-do-chão possui tês quartos de casal, um deles com casa de banho privativa e os outros com casa de banho geral.
Casa do Alto do Forte – Situada na vila do Soito, é uma casa tradicional, com mais de um século,cuja recuperação para turismo rural, respeitou o espaço onde se insere, zona nobre do Forte do Soito e interiormente com todos os ingredientes que fazem parte do conforto contemporâneo. Com capacidade instalada para quatro pessoas (T2 com 150 metros quadrados), o rés-do-chão tem uma sala, cozinha e casa de banho, pequena biblioteca, mini-bar, lareira e aquecimento central. No 1.º andar tem dois quartos de casal e casa de banho privativas. Constou-me que o seu actual proprietário a pôs à venda, desconhecendo se está ou não desactivada.
BTL 2010 – Feira Internacional de Turismo – Decorre de 13 a 17 do corrente mês de Janeiro a Feira Internacional de Turismo (BTL 2010), para os profissionais de 13 a 15 inclusive e para o público no dia 16 das 10 às 23 horas e no dia 17 das 10 às 20 horas. Tive conhecimento que, desta vez, o Sabugal, estará bem representado, pela sua Câmara, ADES, «Sabugal+» e empresários que a eles se associam.
Lanço daqui um repto, para que estas casas rurais, por muitos desconhecidas, que dentro das suas possibilidades se associem também à iniciativa da Câmara.
«Vale sempre a pena, quando a alma não é pequena. Força até Almeida», desculpem até à BTL em Lisboa.
«Terras entre Côa e Raia», opinião de José Morgado
morgadio46@gmail.com
O Pavilhão Multiusos de Vilar Formoso vai receber a 3.ª edição da Feira de Caça, Pesca e Desenvolvimento Rural nos dias 6 e 7 de Fevereiro de 2010.
O evento, organizado pela Câmara Municipal de Almeida, em colaboração com a Federação da Beira Interior, Associação Recreativa de Nave de Haver e o Clube de Caça e Pesca de Vilar Formoso, visa valorizar, promover e divulgar o património cinegético, natural, paisagístico e gastronómico bem como os serviços e actividades relacionadas com o sector da caça, pesca e do mundo rural.
Para além das áreas de exposição relacionadas com a caça, pesca, mundo rural – produtos agro-alimentares regionais e tasquinhas com petiscos e pratos confeccionados à base de caça e pesca, o certame conta com um leque de actividades diversificadas: Montaria ao Javali, Prova de St. Huberto, Demonstração de Cetraria, Tiro ao Prato Virtual, Exposição de Fauna Viva e Espécies Cinegéticas.
No decorrer da feira, os visitantes poderão, ainda, desfrutar da constante animação com grupos musicais regionais.
O Programa da Feira inclui no sábado, 6 de Fevereiro, Montaria ao Javali (Associação Recreativa de Nave de Haver), animação musical com o Grupo de Bombos das Donas (Fundão), demonstração de Cetraria, demonstração de cães (equipa cinotécnica da GNR) e espectáculo de música popular com o Grupo de Cantares «Os Mata Brava». Para domingo estão previstos: demonstração de Aves de rapina, animação musical com o Grupo de Cavaquinhos de Louriçal (Pombal), demonstração de cães (equipa cinotécnica da GNR) e prova de Santo Huberto (Clube de Caça e Pesca de Vilar Formoso).
A feira conta ainda com actividades permanentes como o tiro ao prato virtual, passeios a charrette, exposição e prática de falcoaria, exposição de fauna viva e espécies cinegéticas, tasquinhas e animação de rua.
jcl (com Turismo Municipal de Almeida)
No passado mês de Outubro, de 2009, deslocaram-se aos Foios três técnicos da televisão da Extremadura espanhola. Tiveram conhecimento das boas relações entre Foios/Eljas/Valverde del Fresno/Hoyos e outras localidades da Sierra de Gata. Pediram-me, nessa altura, se seria possível marcar uma data para, na primeira quinzena de Janeiro, de 2010, se poder deslocar uma equipa aos Foios para a realização de uma grande reportagem sobre as relações transfronteiriças. Essa equipa veio e trabalhou, durante dois dias, nesta simpática freguesia raiana. O grupo hospedou-se no hotel «La Palmera», sito em Valverde del Fresno, e deslocou-se aos Foios no passado sábado, dia 8.
Durante a manhã andaram pelas ruas a filmar e a entrevistar a maioria das pessoas que iam encontrando, sobretudo aquelas que tinham feito contrabando.
As sete pessoas envolvidas no projecto, incluindo um jovem português, almoçaram no restaurante «El Dorado» e por volta das 15 horas acompanhei-os até ao planalto do Lameirão para aí termos conversado sobre os mais diversos aspectos do contrabando, mesa dos quatro bispos e também dos projectos que temos em mente no âmbito do turismo.
O frio que se fazia sentir, em plena Serra das Mesas, não permitiu que pudéssemos visitar alguns locais de interesse turístico pelo que passado uma hora regressámos ao povoado em cujo Centro Cívico continuaram com as entrevistas e, sobretudo, para filmar a aparelhagem e o sistema sonoro que faz com que a música, muitas vezes espanhola, se oiça no largo da praça animando e recebendo bem quem chega à dita praça. Esse aspecto da música espanhola na praça foi, sem dúvida, o facto que mais surpreendeu o grupo a ponto de terem dançado durante algum tempo, na via pública.
Tal como estava combinado com a associação de cavaleiros de Valverde del Fresno os técnicos da televisão extremenha acompanharam hoje, domingo, os cinquenta cavaleiros que fizeram o percurso Valverde-Foios, via Piçarrão. Por volta das 12 horas começou a ouvir-se o barulho das ferraduras dos cavalos. Os cavaleiros concentraram-se, durante dez minutos, no Largo da Praça onde foram filmados e apreciados por muitas pessoas dos Foios que saem sempre à rua para apreciar o espectáculo.
Por volta das 13 horas as cerca de setenta pessoas, alguns familiares deslocaram-se através das viaturas particulares, entraram no restaurante «El Dorado» onde lhes foi servido, como sempre, um saboroso almoço onde, naturalmente, o bacalhau também esteve presente.
Logo após o almoço o grupo (re)organizou-se e lá partiram, de novo para Valverde, enquanto a luz do Sol ainda os aquecia e iluminava.
Foi, na verdade, um fim de semana muito animado e bastante proveitoso para a economia local. Fico muito feliz quando vejo meia dúzia de jovens a trabalhar no restaurante.
Apesar de me encontrar satisfeito com tudo o que por cá se vai verificando continuo a dizer que ainda temos muito trabalho pela frente. É caso para dizer que o muito que já fizemos ainda é pouco. Faltam-nos casas de turismo, falta-nos a marcação e sinalização dos mais diversos percurso pedestres, faltam-nos documentos de divulgação e algo mais. Ideias não nos faltam mas cabe aqui recordar uma pessoa dos Foios que dizia: «Como se prepara um indivíduo sei eu, ando é mal de roupas.»
Dentro de poucos dias vou reunir, aqui nos Foios, com o Alcalde Celso Ramos, de Navasfrias, e com a Ana Perez, Alcaldesa de Valverde para podermos analisar e discutir os mais variados aspectos que se prendem com o turismo.
Fiquei muito agradado quando, há poucos dias, dias o Presidente da Câmara, António Robalo, me comunicou a intenção de, muito brevemente, poder reunir com alguns alcaldes da Sierra de Gata e do Alto Águeda para, com eles poder analisar as mais diversas hipóteses de cooperação.
Parabéns, Presidente, pela iniciativa. É excelente e dará, certamente, frutos a curto prazo. Se entender poder contar comigo não hesitarei em dar o meu contributo.
«Nascente do Côa», opinião de José Manuel Campos
(Presidente da Junta de Freguesia dos Foios)
jmncampos@gmail.com
Povo, Nação, País, Pátria, Estado! Palavras plenas, amplas de significado, com que se enchem bocas, se lançam apelos, se gritam protestos. Palavras com que se justificaram actos de heroísmo e chacinas tremendas, guerras justas e expansionismos agressivos, sacrifícios sobrehumanos e terríveis lutas fratricidas. Em nome da Mãe Pátria verteram-se rios de sangue, derramaram-se lágrimas amargas, engoliram-se indescritíveis sofrimentos, praticaram-se inacreditáveis genocídios, criaram-se monstruosos gulags. Em nome do Povo ergueram-se forcas e guilhotinas, morreram criminosos e homens bons, revolucionários e contra-revolucionários, heróis e traidores. Tudo a bem da Nação.
Povo, Nação, País, Pátria, Estado… Existem Povos que não constituem Nações, Nações que não são Estados, Estados que englobam várias Nações. O Reino Unido é um Estado que integra quatro Nações: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Não existe a Nação Espanhola. O que existe é o Estado Espanhol, que engloba a Nação Basca, a Nação Catalã, a Nação Galega. Cada uma destas Nações, possui um País (um território próprio), habitado por um Povo, que tem língua, tradições, história, cultura, constituindo, portanto, uma unidade nacional.
Por sua vez, os Curdos, ou os Palestinianos, existindo como verdadeiras Nações, pretendem definir-se como Países (assegurando a demarcação de territórios próprios reclamados desde há muito) e também como Estados autónomos. Durante décadas, o Povo Palestiniano foi um Estado sem terra, uma Pátria suspensa. Só recentemente, com os acordos de Washington, a desocupação da Faixa de Gaza por parte de Israel e o estabelecimento da Autoridade Palestiniana na Cisjordânia, a Palestina possui um embrião de País e de Estado. Desde 1948, data da constituição do Estado de Israel, que o Povo Palestiniano reclamava a terra de onde tinha sido expulso para viver em acampamentos precários e campos de refugiados nos países árabes vizinhos (Jordânia, Líbano, Síria, Egipto).
Também a dramática questão jugoslava, ainda não completamente resolvida, tem no seu cerne o problema das nacionalidades, e só se torna compreensível à luz da anterioridade.
Portugal existe, como Estado autónomo, como «unidade política», desde o século XII. E a Nação Portuguesa, já estaria então constituída? A chamada «consciência nacional», segundo a maior parte dos historiadores, não só não existia como demorou ainda muitos séculos a formar-se. A este propósito, António Sérgio conta um episódio elucidativo: já na segunda metade do século XIX, o rei D. Luís, numa das suas habituais expedições marítimas, encontrou um grupo de pescadores no mar alto e perguntou-lhes se eram Portugueses. Ao que um deles respondeu: «Nós cá na senhor, nós semos póveiros.»
A consciência de se fazer parte de uma unidade mais vasta do que a aldeia onde nascemos só tardiamente se desenvolveu, sobretudo graças ao serviço militar obrigatório, às migrações do interior para as grandes metrópoles do litoral e ao desenvolvimento dos transportes e das comunicações.
«Na Raia da Memória», opinião de Adérito Tavares
ad.tavares@netcabo.pt
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