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Em França publicou-se um livro intitulado «O Telegrama – Do outro lado do rio», dedicado à emigração portuguesa para aquele país, vista por jovens da segunda e terceira geração.
A edição é da Association Cap Magellan e o livro, abundantemente decorado com fotografias das pessoas e dos lugares, começa com o testemunho do jovem Daniel: «A história que vos vou contar é a do meu pai, Manuel Martins, hoje com 60 anos. Durante a sua infância, viveu na pequena aldeia de Aldeia do Bispo da Raia, no concelho do Sabugal, a sessenta quilómetros da Guarda, onde as actividades económicas se resumem à criação de animais: vacas, ovelhas, porcos e galinhas, assim como ao contrabando.» E a história prossegue contando a aventura vivida pelo pai para chegar a França em 1964, passando a salto as fronteiras e escondendo-se nas montanhas, com a ajuda de um engajador, a quem pagou 20 contos.
Seguem-se depois outras histórias, contadas por outros jovens portugueses que vivem em França, Suíça e Canadá, países onde nasceram e onde estão perfeitamente integrados.
O prefácio é assinado pelo Embaixador de Portugal em Paris, António Monteiro, que manifesta um grande apreço pela iniciativa: «É pouco habitual a publicação de livros com depoimentos de jovens, sobretudo quando o seu tema central é a vida dos pais e as causas que os levaram um dia aos caminhos da emigração. Não é fácil falar de nós próprios, testemunhar sobre passagens e períodos das nossas vidas que tantas vezes são motivo de mal-estar e de sofrimento».
Aqui deixamos a sugestão de leitura de uma boa obra, em francês, para quem pretende conhecer melhor as experiências vividas pelos nosso conterrâneos e compatriotas, na busca de uma vida melhor.
A obra pode ser consultada Aqui.
José do Bernardo
Investigadores da Universidade do Minho elaboraram o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses de 2007, que foi divulgado no passado dia 8 de Abril. Os dados nele insertos e a sua respectiva análise têm dado azo a diversas interpretações plasmadas sobretudo na imprensa regional, podendo aqui afirmar-se que cada escriba se serviu a seu gosto.
Acerca do referido anuário, que contém 242 páginas, o mensário Cinco Quinas titulou na sua edição on-line: «Sabugal é dos municípios com maior liquidez», destacando assim um dado considerado positivo acerca do município raiano. Já o semanário guardense Terras da Beira, na edição da semana passada, preferiu escrever na primeira página: «Figueira de Castelo Rodrigo, Aguiar da Beira, Sabugal, Meda e Manteigas estão na lista dos 39 municípios que em 2007 apresentavam uma dependência superior a 80 por cento das receitas provenientes das transferências do Estado», dando assim uma imagem negativa das contas da Câmara do Sabugal.
A verdade é que o anuário pode ter diversas interpretações, dependendo dos olhos que o lêem e da cabeça que o interpreta. Um bom serviço é pois ler e avaliar, antes de se lançar na crítica fácil ou no elogio descabido. É precisamente esse exercício de análise fria, embora curta e incisiva, que procuraremos fazer.
O estudo é deveras aprofundado e faz uma análise comparativa pela qual tenta caracterizar a situação orçamental, económica, financeira e patrimonial das contas consolidadas do ano 2007, tendo em conta o Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL), em cujas regras de registo as contas dos municípios têm, por dever de lei, de estar inscritas. Na verdade o Sabugal aparece em alegada posição favorável num conjunto de itens, mas porém muito mal posicionados noutros e isso, aliás, ocorre com a generalidade dos restantes municípios, incluindo os do distrito da Guarda.
Não existem situações contabilísticas perfeitas e os municípios não se regem pela busca do lucro e, consequentemente, pela eficácia financeira das suas operações. Antes procuram servir as populações, tentando proporcionar-lhes a satisfação de necessidades básicas e de bem-estar, o que muitas vezes colide com a boa gestão financeira.
É assim que podemos até considerar como mau sinal haver um excesso de liquidez, pois tal pode corresponder uma desnecessária retenção de verbas que antes deveriam estar a ser aplicadas em benefício das populações. Por outro lado, pode considerar-se normal que uma câmara do Interior não tenha uma forte autonomia financeira, pois bem se sabe que a cobrança de receitas próprias (resultantes sobretudo de taxas e impostos municipais) ocorre sobretudo nos municípios urbanos de maior dimensão.
Na verdade o que mais importa é olhar para os quadros compósitos do anuário, que referenciam os indicadores que resultam de fórmulas que têm em conta diferentes dados, procurando por essa via transmitir uma ideia mais geral e melhor fundamentada da actividade dos municípios.
Nesses indicadores incluímos o «resultado económico», que é a diferença entre os proveitos e os custos. E aqui o Sabugal não parece, por não estar incluído no ranking dos 50 melhores ou piores. Porém está presente no quadro da «eficiência financeira», que pode ser considerado como o indicador do verdadeiro ranking global, por se tratar de um índice compósito que junta 10 indicadores estatísticos relevantes. E aqui o Sabugal ocupa um honroso 38º lugar, assim se demonstrando que nem tudo vai mal. Aliás o Sabugal é único município do distrito da Guarda a figurar no «clube» dos 50 mais eficientes municípios portugueses em 2007, embora caiba aqui destacar o vizinho concelho de Belmonte, já no distrito de Castelo Branco, que ocupa o prestigiante 8º lugar do ranking.
Agradeço a Victor Proença, prezado Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara do Sabugal, o reparo que colocou no comentário anexo, dando conta de que a lista dos municípios com melhor eficiência financeira está apenas ordenada alfabeticamente. Ou seja, Sabugal e Belmonte estão entre os 50 municípios mais eficientes, e pronto.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
leitaobatista@gmail.com
Quando criança tive os meus medos, esses passaram, agora tenho outros. Um deles é ter que enfrentar a burocracia, tanto como utente de um serviço público, como funcionário de um organismo público que sou. Se exceptuarmos os burocratas, ela também fustiga aqueles que estão do lado de dentro do balcão.
Presentemente estamos a assistir a uma diarreia legislativa que faz a burocracia crescer, não para ajudar os cidadãos, como é óbvio, mas para diluir a responsabilidade de quem toma as decisões.
A burocracia podemos considerá-la como um fanatismo. E o fanatismo burocrático consiste em redobrar esforços quando já se esqueceram os fins, muitas vezes exigindo papéis que para nada servem e que vão duplicar outros. Esses papéis, os que para nada servem, sabe Deus o que custaram a conseguir! E quando são entregues nem para eles olham… Quem não se sente indefeso perante esta pesada máquina administrativa? Quem não se sente impotente perante esta macroburocracia anárquica?
Como atrás referi, a burocracia também afecta quem está por detrás de um balcão de um qualquer serviço público. Neste caso, só não é afectado o burocrata.
O que é um burocrata? É alguém que considera que tudo o que faz é correcto, porque tem a justiça por ele. Entrava qualquer processo. Por norma é vaidoso, ambicioso e arrogante: Tem uma postura de serenidade, e raras vezes se exalta. Não tem sentimentos, dificulta qualquer procedimento, desde dar um bocado de pão a um pobre, até à construção de um arranha-céus. É um fanático administrativo.
A burocracia podemos considerá-la como o poder dos ignorantes. É como uma peste, abunda nas sociedades doentes onde impera a ignorância e a mediocridade.
«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
ant.emidio@gmail.com
Caros amigos, esta não é uma notícia, este foi um acontecimento, pelo qual todos passamos. O meu pai, companheiro de tantas lutas – forte na causa da vaca jarmelista, apoio até na execução da vacagalo –, disponível sempre que lá chegava com jornalistas, ou mesmo pessoas que queriam saber do Jarmelo e das suas coisas.
Subimos os dois, até ao alto, subimos, muitas vezes com sacríficio e alguma dor (angústia), deixámos a causa da vaca jarmelista, mesmo ali no ponto de onde se pode partir para muito mais… ou cair ao mais fundo.
Levámos esta caminhada até ao tal ponto alto, do qual a ele já só lhe sobravam vertigens, a pressão de algumas angústias, forçaram-no a várias quebras de tensão (umas mais figuradas, outras mesmo reais) sendo que a última foi na sexta-feira, dia 17 de Abril, cerca de 40 anos depois de, ele também com sensivelmente a minha idade, ver partir seu pai e cerca de 30 anos depois, pela mesma época ver partir sua mãe.
Algumas coisas que estão destinadas aos sábios, acho que o «Silva da Ima», as tinha. Teve a lucidez de saber que o «tempo» estava próximo e como me disse no dia da partida (emocionados os dois, claro) – já vi partir o meu avô, o meu pai… não há nada de novo.
Ora citado nos jornais locais, ora falando nas rádios ou aparecendo nas TVs, o «Silva da Ima» teve sempre a preocupação de não dizer (principalmente sobre a vaca jarmelista), tudo o que lhe ia na alma, mas tão só aquilo que achava que poderia ajudar à estratégia de «salvar» as situações em que eu o metera.
Deixou-nos com grande lucidez, a tal que perturba os que presentem osacontecimentos.
Passou os últimos dias a falar com os amigos e a dizer-lhes as últimas coisas.
Quantas horas faltavam para a revisão do tractor, quando é que se tratavam as abelhas, a renda da lameira ou da regada, isto e aquilo.
Depois de 3 episódios de quebras de tensão, em 12 horas… visitas ao hospital… depois da primeira, disse-me, logo vi que me mandavam pra casa pra morrer.
Não foi da primeira, mas acabou por acontecer depois da última saída do hospital (3) em 12 horas, teve direito a um dia completo para voltar a falar das coisas que naquele momento eram importantes. O «Silva da Ima», era um «gracejador» e ainda disse, não tarda muito e estou a lavrar novamente no «Lameirinho» (terreno, onde
quarta-feira deu os últimos 10 regos com a charrua do “Massey Fergusson 135″). Depois destes últimos dez regos, ainda foi com a nossa mãe semear «gravanços»; aí deu-se o primeiro episódio de quebra de tensão e convulsões. A nossa Mãe (que é CORAGEM) assistiu-o com recurso a algumas dicas que lhe fomos ensinando, e todo o resto de força interior, não havendo por que pedir socorro, teve que o deixar, já consciente, mas deitado, para ir telefonar por apoio e trazer um cobertor.
O «Silva da Ima» andava a sismar com a morte dos pais (dele) que se dera há cerca de 40 e 30 anos respectivamente pai e mãe, ambos no mês de Abril, próximo da Páscoa… estas coisas vão marcando e às vezes fazem lei.
Para ele, guardou um dia que não sendo de páscoa, era ainda nos 8 dias após.
O «Silva da Ima» guardou para ele, que o funeral pudesse ser num sábado ou domingo. Acho que o que o traria perturbado, podia ser o facto de o filho mais velho ser camionista e não poder estar (até isso acertou, estva sem carga e perto do aeroporto de Milão na Itália). Não tivemos que faltar aos empregos para tratar de tudo.
O «Silva da Ima», acho eu que era vaidoso, pena que não tivesse visto o mar de gente que o acompanhou, o «Silva da Ima» não queria flores nem choros. Dizia em tom de brincadeira: o que me custa mais, Isablinha (nossa mãe) é deixar-te viúva.
AEUS PAI!!, conta connosco MÃE!!!
Agostinho da Silva
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