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Estivemos à conversa com o poeta guardense Fernando Pinto Ribeiro, um homem de profundo saber, de especial afectividade e que preza muito a amizade. Disse-nos que vê na poesia um enigma que quer revelar e um acto natural através do qual busca a perfeição, mas com plena consciência de que nunca a conseguirá atingir.
Fernando Pinto Ribeiro nasceu na Guarda há 80 anos. «Nasci numa madrugada fria de Janeiro, numa casa remediada, no seio de uma família oriunda da burguesia rural», declarou-nos no seu ar compenetrado, procurando explanar alguns pormenores da sua história de vida.
Privou com o escritor quadrazenho Nuno de Montemor, que era amigo da família. «A minha tia materna, Maria do Carmo Alves da Silva, era a secretária do Senhor Capelão, como chamávamos a Nuno de Montemor. Foi até na casa dessa minha tia, em Lisboa, que Nuno de Montemor faleceu». Guarda do escritor gratas recordações e nutre por ele uma grande admiração: «Pelo seu talento, pela sua estrutura moral e pelo seu carácter. Tinha o poder nos olhos. Era um olhar dominador, a que ninguém ficava indiferente. Mas era também um grande conversador. Gostava da minha companhia e chamava-me para ouvirmos música clássica».
Alzira Veloso Álvares de Almeida, irmã de Nuno de Montemor, foi professora de Fernando Pinto Ribeiro e isso também foi decisivo para a ligação que teve com o autor de «Maria Mim».
«Nasci para a poesia em parte devido à admiração pelos textos de Nuno de Montemor», revela-nos. Mas acrescenta que houve outros factos que foram decisivos. «Da janela do meu quarto ouvia as ceifadeiras a cantar logo de madrugada, quando, no início do Verão, chegavam à cidade em ranchos, a fim de encontrarem quem as contratasse para as ceifas. Encantava-me com as suas canções ritmadas. Aquilo era para mim um deslumbramento. Esperava de ano para ano pelo ritual e quando via os ranchos a dançar e a cantar envolvia-me com eles, apreciando o espectáculo».
As exibições dos ranchos contribuíram para o gosto que Fernando Pinto Ribeiro teria pelas quadras e pela poesia. «Comecei até a cantar e a receber elogios de quem me ouvia. Desejei mesmo ser cantor popular. Desatei a escrever quadras, mas muito mal feitas, o que me levava a escondê-las no sobrado. Dali passei a ver na poesia uma necessidade, que passou a acompanhar-me pela vida fora».
Quis encontrar a perfeição, procurando que cada poema tivesse uma quadratura musicável, com rima e métrica. Foi assim que os seus poemas passaram a ser musicados e cantados.
De um só fôlego revela alguns dos que lhe musicaram poemas: Arlindo Carvalho, António Melo, Jorge Fontes, Valdemar Silva, Helena Moreira Viana, Jaime Santos, Mariel de Sousa, Pedro Jordão, Branco de Oliveira. E refere também os que cantaram as suas poesias, onde avultam muitos fadistas: Tristão da Silva, António Mourão, Beatriz da Conceição, Tonicha, Simone de Oliveira, António Passão, Julieta Reis, Salete Tavares, Pedro Moutinho, Raquel Tavares, Vanessa Alves, António Severino, Anita Guerreiro, Artur Garcia, Arlindo Carvalho, Branco de Oliveira, Lenita Gentil, Gina Esteves, Natércia Maria, Humberto de Castro, Pedro Jordão, Toni de Almeida, Vítor Duarte (Marceneiro III). «Tenho de procurar dizê-los todos, para evitar melindres», confessa.
Radicado desde jovem em Lisboa, Fernando Pinto Ribeiro fez carreira nos jornais, trabalhando como revisor de textos e colaborando com alguns poemas em suplementos literários. Durante anos esteve ligado ao Diário de Notícias e também ao Diário Ilustrado, onde foi chefe do serviço de revisão. Foi ainda director da prestigiada revista cultural Contravento, com concepção gráfica de Artur Bual, e onde colaboraram nomes sonantes da nossa cultura. Foi também durante anos coordenador das chamadas «pastinhas de poesia» da Queima das Fitas de Coimbra.
«Nunca viajei na vida, sou muito sedentário», confessa. Mas no ano de 1996 encontrou forças para ir até ao Sabugal, por ocasião das comemorações dos 700 anos do foral dionisino. Coordenou a exposição bibliográfica integrada nas comemorações. «Foi a única vez que estive no Sabugal, onde fui muito bem acolhido e onde tive a oportunidade de observar o acervo de documentos da Biblioteca Municipal, que era riquíssima em colecções de manuscritos de autores da região».
Aos 80 anos de idade, Fernando Pinto Ribeiro nunca publicou um livro de raiz, escrevendo os seus poemas em colectâneas de poesia, revistas culturais e jornais. «Confesso que nunca publiquei porque nunca vi nisso uma necessidade ou mesmo qualquer interesse», declara-nos. «A poesia é para mim um acto natural, pelo que sou imediatamente compensado pelo simples acto de escrever poemas e de os rever continuamente. Vejo aliás na revisão permanente dos meus poemas uma espécie de volúpia, uma busca incessante pela perfeição, mas ciente de que nunca a atingirei».
plb
Bill Kaulitz, vocalista dos Tokio Hotel, a banda alemã que apaixona os adolescentes de todo o Mundo, vai ser operado a um quisto nas cordas vocais.
Além do espectáculo do Pavilhão Atlântico, no dia 16 de Março passado, os Tokio Hotel cancelaram mais três concertos da tournée europeia em consequência de uma amigdalite do vocalista, Bill Kaulitz. Uma análise médica especializada revelou que não se tratava de uma amigdalite mas sim de um quisto que se tinha formado nas cordas vocais do cantor.
«A cirurgia tem que ser feita em breve porque o cantor corre o risco de sofrer danos irreversíveis na voz. Após a operação deverá ficar em repouso durante várias semanas e terá que fazer terapia de reabilitação para treinar as cordas vocais e evitar danos a longo prazo», esclareceu David Jost, o produtor e agente da banda.
A passagem pelo «Rock in Rio» poderá estar em risco uma vez que o agente do grupo alemão terá já informado que a digressão europeia «1000 hotels» vai ser cancelada.
Segundo a agência France Press os concertos de Genebra, Madrid e na cidade francesa de Douai serão reagendados à semelhança do que aconteceu em Lisboa.
Para já a organização do «Rock in Rio» apenas confirma que a banda estará parada durante o mês de Abril devendo actuar no dia 1 de Junho em Lisboa.
O banda é um autêntico fenómeno de popularidade entre crianças e adolescentes com legiões de fãs em todo o Mundo.
aps
Homem de cultura e etnógrafo, jurista de profissão, Joaquim Manuel Correia nasceu em 1858, na Ruvina, concelho do Sabugal. No dia 5 de Abril terão início as comemorações dos 150 anos do seu nascimento com diversas iniciativas no Museu e Auditório Municipal do Sabugal.
As comemorações da passagem dos 150 anos do nascimento de Joaquim Manuel Correia arrancam no sábado, 5 de Abril, organizadas pela empresa municipal «Sabugal+», Museu Municipal e Câmara Municipal do Sabugal.
A sessão de abertura (nove horas da manhã) está marcada para o Auditório Municipal, com as intervenções do presidente do município sabugalense, do presidente do conselho de administração da «Sabugal+» e de Natália Correia Guedes, neta do homenageado.
As palestras da manhã, com a participação de ilustres intervenientes, serão preenchidas com a sapiência de João Serra (Os trabalhos de Joaquim Manuel Correia), mestre Pinharanda Gomes (Aspectos da vida e obra de Joaquim Manuel Correia), Manuel Leal Freire (A vida de uma família na Ruvina nos meados do século XIX), Adérito Tavares (O país e o Sabugal – Enquadramento Histórico – 1858-1974) e Manuel Meirinho Martins (O Sabugal de Hoje).
Da parte da tarde, pelas 16 horas, será inaugurado no Museu do Sabugal uma exposição comemorativa e terá lugar uma sessão de lançamento do livro «Celestina» de Joaquim Manuel Correia.
Joaquim Manuel Correia nasceu a 21 de Março de 1858 na freguesia da Ruvina, concelho do Sabugal. Formou-se em Direito no ano de 1888 na Universidade de Coimbra e veio a falecer nas Caldas da Rainha no dia 10 de Outubro de 1945.
Exerceu como advogado no Sabugal e nas Caldas da Rainha, foi conservador do Registo Civil de Leiria e presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha.
Homem de cultura é autor de vários livros sobre as gentes e as terras raianas com destaque para «Terras de Ribacôa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal». Alguns dos mais importantes achados arqueológicos do Sabugal foram por si recolhidos, catalogados e enviados para o Museu Nacional de Arqueologia.
Aqui deixamos aos nossos leitores um excerto do livro «Celestina»:
«O dia estava belo e tudo preparado para a romaria. Todos os casados desse ano, da aldeia de Ruvina, no concelho do Sabugal, estavam já prontos para a partida, uns a pé, outros a cavalo. A família Calamote resolveu ir de carro (de bois), que ficara armado na véspera com alvos lençóis de linho, ligados fortemente aos estadulhos. Faltava só cobri-los com colchas. Sobre isso houvera divergências em casa. A Brízida queria que se enfeitasse o carro com uma colcha amarela, as filhas com uma linda colcha bordada a frouxo, em pano de alvíssimo linho, embora grosseiro, na qual, entre ramos caprichosos, havia correctas figuras em posições extravagantes.
Venceu a Brízida, alegando, e com razão, ser mais vistosa a colcha amarela e que, ainda que se estragasse, havia muitas iguais à venda.
Resolvida desse modo tal contenda, teve o ganhão ordem de cobrir o carro com a coberta amarela, logo que nascesse o sol, e de lhe estender dentro os melhores cobertores para atenuar o choque e a trepidação na
marcha. Eram sete horas da manhã quando a Domingas e o marido foram saber se já estavam prontos.
– Vou já vestir as meninas e encher as cuncas de merenda, enquanto o ganhão põe os bois no carro e o meu homem enche a borracha de vinho e albarda a égua nova.
– Não sabia que tinham uma égua nova!
– Pois temos, trocámos pela russa e vamos hoje experimentá-la à Senhora da Póvoa.»
Excelente iniciativa com ilustres intervenientes. Um momento superior de cultura e de defesa da nossa história.
jcl
A definição de uma estratégia de desenvolvimento do Concelho é uma tarefa colectiva, para a qual todos temos o dever de contribuir.
E este é o momento certo, coincidindo com a entrada em vigor de um novo Quadro Comunitário de Apoio – Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN).
Mas este é também um momento de urgência, obrigando todos os que sobre estes assuntos costumam reflectir a não perder tempo com grandes teorias – a definição de uma estratégia de desenvolvimento deve partir, no essencial, pela selecção de um conjunto de projectos cuja realização concretiza uma determinada visão estratégica. Começo então pela minha visão para o Concelho: construir um Sabugal enquanto território sustentável e competitivo, atractivo para viver, trabalhar e investir, preservando as memórias, as tradições e a natureza.
Falo de uma visão que envolve e integra os três pilares em que assentam hoje os processos de desenvolvimento dos territórios – o pilar economia, o pilar social e o pilar ambiente
Falo de uma visão que é ao mesmo tempo uma visão de modernidade e de complexidade face a um passado que nos deixou um lastro que condiciona a gestão do presente, mas nos impõe a criação das condições para um futuro melhor.
Falo de uma trajectória de desenvolvimento do concelho do Sabugal que passa pela melhoria da qualidade de vida e da coesão social e que promove o reforço da sua base de sustentação económica, tirando partido dos recursos e capacidades próprias.
Falo de uma nova postura dinâmica e proactiva de resposta aos três grandes desafios que se colocam ao Concelho e às suas gentes:
Como «usar» os recursos para induzir a competitividade e a qualificação do Concelho;
Quais as «ameias» que o Sabugal deve construir e defender para um desenvolvimento equilibrado e sustentado;
Qual o papel que o Concelho quer assumir no quadro regional e transfronteiriço.
Falo, por último, e parafraseando uma das pessoas (Oliveira das Neves), que mais tem pensado e trabalhado nesta área, da urgência em se estabelecer um Pacto de Desenvolvimento para o Concelho do Sabugal, para o qual todos somos chamados e no qual todos somos «actores principais».
Acredito que vamos conseguir, basta que olhemos para o futuro como se pegássemos ao forcão numa tarde de capeia.
«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
ramiro.matos@netcabo.pt
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