Em Vale de Lobo, ao fundo da Serra d’Opa, foi a mais concorrida das Romarias arraianas e ponto de convergência dos povos leoneses de Riba Coa com o Reino de Portugal.

Jesué Pinharanda - Carta DominicalA romaria já não é o que foi. Ainda se inaugura no Domingo de Pentecostes, uma vez que a principal festividade tem lugar na imediata segunda-feira, mas os três dias de antigamente estão reduzidos para dia e meio. O peso da cultura profana desapareceu desde o tempo do bispo D. José Mattoso, ficando apenas o culto sagrado.
Outrora, toda a Raia, incluindo a espanhola, peregrinava ao Vale de Lobo, que, desde 1957, por iniciativa do falecido e prestigiado sábio e amigo, dr. Jaime Lopes Dias, se chama Vale da Senhora da Póvoa.
Três dias de culto, dois dias de folia. Ranchos chegavam de toda a parte, com as mocidades das aldeias, suas alabardas, tambores e cantigas ao Divino e à Senhora. Folguedo e também rixas, quando as folias das várias aldeias disputavam umas contra as outras o fôlego do repertório e da energia. Muitas vezes tudo acabava em combates, tendo sido necessário, em dada altura, proibir os rapazes de levarem varapaus para o arraial.
Vale da Senhora da Póvoa - PenamacorEm livros de Joaquim Manuel Correia (da Ruvina) e de Nuno de Montemor (de Quadrazais) encontram-se belíssimas e pitorescas páginas acerca da Senhora da Póvoa, ainda que no romance de Nuno de Montemor pese a dor angustiada de Maria Mim, abandonada, no arraial, pelo alferes a quem dera o seu terno coração.
A ponte do Sabugal tornou-se a passagem capital de Riba Coa para Portugal. E a Senhora da Póvoa o atractivo inevitável. Ainda nos lembra, da nossa infância, os carros de bois floridos e acolchoados, transportando desde a Raia os peregrinos com seus refastelados comeres para três dias. E cantavam-se as loas da Senhora da Póvoa, com o refrão colectivo:
«Viva a Velha! Viva a Nova!»
Enfim:

Nossa Senhora da Póvoa
tem um galo no andor
Cada vez que o galo canta
acorda Nosso Senhor.

Viva a Velha, viva a Nova. Da Póvoa, quer dizer, Senhora do Povo, festejada junto do Esposo, o Divino Espírito Santo.
«Carta Dominical» de Pinharanda Gomes

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